Restrições de acordo com dados do banco de fomento, são 620 mil as empresas portadoras do instrumento, que oferece juros mais baixos. No total, o País tem mais de 9 milhões de MPEs
A intensa burocracia que envolve a obtenção do Cartão BNDES tem dificultado o acesso das micro e pequenas empresas (MPEs) ao benefício, para que essas possam impulsionar os seus negócios.
Atualmente, poucas delas possuem esse cartão, que é como um crédito pré-aprovado para que as empresas realizem compras de mercadorias.
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De acordo com informações do próprio banco de fomento, são 620 mil o número de empresas portadoras do Cartão BNDES, enquanto, no Brasil, existem 9 milhões de micro e pequenas.
Entidades empresariais e empreendedores entrevistados pelo DCI afirmam que, para aqueles que estão iniciando os seus negócios, o caminho para conseguir o cartão é bem mais longo. A empresária da Phytotratha Cosméticos, Mirian Torser, diz que, na realidade, isso nem chegar a ocorrer. “Para as empresas que estão iniciando as suas atividades, não é que é mais difícil obter o Cartão BNDES. Elas não conseguem”, diz.
A proprietária da Phytotratha iniciou o seu negócio há 19 anos e há 15 ela tem acesso ao crédito do banco de desenvolvimento.
“Quando abrimos a empresa, tentamos ter acesso a algum benefício ou empréstimo, mas não conseguimos. É muito difícil no começo. É ilusão achar que você vai abrir uma empresa e logo vai obter um Cartão BNDES ou qualquer outro benefício”, afirma Torser.
“Agora, depois de algum tempo com empresa aberta e, principalmente, se você tem um bom relacionamento com o banco emissor, é bem mais fácil obter o cartão”, diz Torser. “Porém, o BNDES só vai ajudar negócios que ele sabe que darão certo. Não é uma instituição de caridade”, finaliza.
Agentes financeiros
Para os entrevistados, um dos grandes problemas da burocracia exigida está nos agentes financeiros que realizam a operação. De acordo com o presidente da Associação Brasileira para o Desenvolvimento da Micro e Pequena Empresa (Abrampe) Armando Marcos Matero, o banco de fomento não atende diretamente as micro e pequenas que desejam obter o crédito.
Atualmente, os bancos autorizados para emitir o cartão são o Banco do Brasil, o Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul (BRDE), o Banrisul, Bradesco, a Caixa Econômica, o Itaú, o Sistema de Cooperativas de Crédito do Brasil.
“Se por um lado, o cartão BNDES oferece uma das menores taxas de juros do mercado, em cerca de 0,92%, por outro, o grande entrave nesse processo é um banco intermediando essa negociação”, diz a assessora econômica da FecomercioSP, Kelly Carvalho. “E cada um deles [bancos] tem a sua própria política de concessão de créditos e essas costumam ser burocráticas”, completa.
Garantias
Carvalho lembra que uma das exigências dos bancos que mais dificultam a vida das MPEs no acesso ao cartão são as garantias. Já que muitas dessas empresas, principalmente as que estão no início, não têm como oferecer bens ou recursos.
“Se houvesse alguma melhoria nessas exigências dos bancos por garantias, o estabelecimento de uma maior flexibilidade, já ajudaria as pequenas”, diz o diretor Departamento de Micro, Pequena e Média Indústria (Dempi), Augusto Boccia.
“Os critérios de análise de um banco comercial em relação às empresas são em termos de retrospectiva. E muitas pequenas não têm respaldo para apresentar ao banco seu histórico de faturamento, endividamento e informações bancárias. É como se fosse a busca pelo primeiro emprego. Não te dão oportunidade, porque você não tem experiência. Mas você precisa começar de algum lugar”, afirma o presidente da Abrampe.
Facilidade
Ele também diz que a facilidade ou dificuldade de obtenção do Cartão BNDES irá depender do relacionamento que o empresário tem com o banco emissor.
Matero acrescenta que uma das razões pelas quais os bancos estão demorando mais para emitir o Cartão BNDES é a maior inadimplência das empresas. “Em função da dificuldade das empresas em pagar os seus compromissos, uma emissão que levava 10 dias para ocorrer, está demorando de 25 a 30 dias”, afirma.
Na opinião de Matero, o fato dos bancos comerciais visarem “apenas o lucro” acaba prejudicando o maior apoio às MPEs.
“Os bancos regionais visam mais o desenvolvimento das empresas. E os critérios de análise para obtenção de benefícios são mais prospectivos, o que é mais positivo para as empresas”, diz Matero. Já Boccia afirma que a burocracia não está somente relacionada aos bancos emissores do cartão, mas também ao BNDES.
O banco de fomento exige das pequenas e médias documentos como balanços patrimoniais e contratos sociais.
Pendência
“Além disso, se você tiver algum atraso de pagamento ou qualquer pendência com algum tributo federal, por exemplo, você é automaticamente bloqueado”, diz Boccia. “É preciso, portanto, flexibilizar um pouco esse funcionamento para oferecer condições às pequenas”, finaliza. Além disso, para o representante do Dimpi, é preciso uma melhor comunicação dos bancos que emitem o cartão na divulgação deste benefício.
Ele explica que o que melhorou no oferecimento do cartão BNDES foi a ampliação do recurso repassado aos bancos, atualmente em R$ 1 milhão para cada instituição financeira. “Mas geralmente são repassados R$ 500 mil”, finaliza.
Fonte: DCI – SP