Prestação de contas em tempo real deve exigir esforço e dinheiro, principalmente de companhias menores, mas deve reduzir a burocracia e melhorar a relação com os funcionários
O jeito de trabalhar das empresas brasileiras vai passar por uma mudança significativa a partir de janeiro, com a entrada em vigor do eSocial, plataforma eletrônica que vai reunir dados trabalhistas, tributários, fiscais e previdenciários dos trabalhadores.
Especialistas no setor afirmam que a exigência de manter informações atualizadas sobre os funcionários terá um impacto maior para companhias de pequeno porte, menos acostumadas a essa tarefa. “No caso das empresas menores, a mudança vai ser realmente cultural”, diz Márcio Massao Shimomoto, presidente do Sescon-SP.
Isso porque o atraso na prestação de contas sobre contratações e férias, por exemplo, poderá ser punido com multas. “Hoje muitas companhias deixam para registrar os dados do funcionário depois que ele começa a trabalhar, o que não será mais possível. Com o eSocial, as informações terão que ser colocadas em tempo real”, diz Shimomoto.
Já Adilson Silva, sócio da Mazars Cabrera, afirma que muitas firmas menores terão que investir para se adequar às novas regras. “É possível que elas tenham que contratar uma empresa de TI ou consultores externos para se adaptar ao funcionamento do programa”. As companhias maiores, por outro lado, já possuem essa estrutura, mas terão que ajustá-la à nova realidade, diz ele.
Consultor da Sage Brasil, Glauco Marchezin afirma que o eSocial também vai exigir um incremento na capacitação dos profissionais de recursos humanos. “Eles terão que entender o funcionamento do sistema, para prestar informações corretas e rapidamente”.
As firmas com faturamento superior a R$ 78 milhões devem adotar o eSocial já no mês que vem, enquanto as empresas com rendimento anual inferior a esse valor entrarão no programa em julho de 2018. As tarefas exigidas das companhias serão acrescentadas progressivamente durante o ano, para facilitar a adaptação dos empresários ao sistema.
A alguns meses da entrada em vigor do programa, 70% das organizações de médio e pequeno porte ainda não estão prontas para o eSocial, de acordo com pesquisa do Sescon-SP. O levantamento mostrou também que 38% delas ignoram a necessidade de adequação ao sistema.
Segundo Shimomoto, parte das companhias brasileiras tem uma resistência cultural em investir e alterar rotinas. Entretanto, ele afirma que o eSocial vai facilitar o trabalho empresarial, o que deve ampliar a aceitação ao programa durante o ano que vem.
Avaliação positiva
Apesar da dificuldade inicial, entrevistados afirmam que o eSocial trará uma série de benefícios. “Muitas empresas que trabalham de maneira informal vão se adequar às regras, o que deve ampliar a arrecadação do governo”, diz Silva. Já Shimomoto afirma que a relação entre as companhias e os funcionários vai ficar mais transparente. “O trabalhador vai ter mais facilidade para acessar informações referentes ao FGTS e à aposentadoria, por exemplo.”
Para Marchezin, o sistema deve diminuir a burocracia enfrentada pelos empresários. “A apresentação dos dados em uma única plataforma é muito bem-vinda, já que, hoje, é necessário enviar as informações para vários órgãos públicos diferentes”, destaca.
FONTE: Fenacon